quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entenda a diferença entre alergia e intolerância alimentar

As alergias aos alimentos são classificadas de acordo com o momento de sua manifestação. Elas podem ser classificadas como "alergia alimentar  imediata" ou "alergia alimentar tardia". Esta última também é conhecida como alergia escondida, hiperssensibilidade ou intolerância.

Segundo a médica Márcia Carvalho Mallozi, coordenadora do ambulatório de alergia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a alergia imediata é uma reação grave e rápida a determinado alimento, que independe da quantidade ingerida e pode levar à anafilaxia. “É o caso daquelas pessoas que têm alergia a camarão, por exemplo, e nem podem comer um bolinho frito em óleo usado antes para fritar esse crustáceo. Trata-se de uma resposta imunológica, que é mediada pela imunoglobulina E (IgE), com reação imediata, e se manifesta sempre contra uma proteína ou uma molécula ligada a ela”.

Já a intolerância tem reação lenta, é química e determinada por células ou anticorpos diversos da IgE, embora ela também possa estar presente. Em geral é mediada pela Imunoglobulina G (IgG). Os efeitos aparecem após horas ou dias de ingestão repetida de determinado alimento, e podem envolver outras substâncias.

De acordo com o médico alergista e imunologista Attilio Speciani, diretor científico do Servizi Medici Associati (SMA), na Itália, embora esses fenômenos sejam distintos,  suas respostas orgânicas interagem intensamente, contribuindo para aumentar os níveis de inflamação no organismo e, portanto, estimulam manifestações alérgicas que podem levar a alguma dificuldade diagnóstica.  “A intolerância é uma espécie de fenômeno de acúmulo, como se fosse um envenenamento progressivo,  diferente das típicas alergias alimentares”, completa o especialista.

Testes disponíveis

No caso da alergia imediata, além do exame clínico que investigará a presença de sintomas comuns à patologia (pele vermelha, urticária, inchaço do rosto etc), testes de IgE e IgG são feitos para o alimento que se suspeita seja a causa da reação. “Pode ser até que o paciente tenha alergia ao trigo. E então solicitamos um exame para esse agente”, fala Mallozi. E o médico treinado para avaliar o quadro é um alergista ou um gastroenterologista.

E para as intolerâncias? Speciani esclarece que na Itália existem vários testes, mas eles são considerados anticonvencionais. Ele destaca o Recaller Program, exame que integra o IgG e o Syncro Test, capaz de analisar valores elevados de IgG para alguns alimentos específicos.  Combinados, eles permitiriam uma interpretação que considera os grandes grupos alimentares, bem como cada substância isolada. “O resultado indica para o médico a dieta que melhor atenda às necessidades do paciente”, relata Speciani.

O nutricionista clínico Thomas O'Brian, da Instituion for Functional Medicine (EUA), conta que  em seu país também existem vários testes, e eles são capazes de identificar a intolerância ao glúten precocemente e com uma precisão de 90%. “Em breve eles estarão no Brasil”, anuncia.

Indagado sobre a relevância do teste genético, O'Brian afirma que o papel da genética na doença celíaca é claro: “Existem dois genes principais envolvidos: o HLA-DQ2 e o  HLA-DQ8. Quanto à intolerância, apenas, existem outros dois novos genes têm sido identificados com regularidade, e parecem estar associados a muitas manifestações”.

Abstinência

Diante da limitação dos testes no Brasil, Mallozi diz que, na prática, o que se faz é o teste do desencadeamento, isto é, a retirada do alimento suspeito da dieta; depois ele é reintroduzido para ver se há alguma reação.

Na opinião da nutricionista clínica funcional Denise Madi Carreiro, exames são importantes, mas o que funciona é a clínica. "O especialista deve cruzar sintomas com alimentação, e não só o processo reativo aos alimentos”, observa.

Encontrado o problema, a base do tratamento da intolerância é o restabelecimento do equilíbrio da alimentação para melhorar a resposta orgânica. “A abstinência de determinados alimentos pode ser temporária. O que se busca é o estímulo da resposta orgânica por meio do processo nutricional adequado”, explica. “Para muitos médicos, é difícil entender esse caminho, pois eles partem de uma doença que terá uma droga correspondente, no caso, um anti-histamínico”, conclui a nutricionista.

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